A pedido dos professores de Português e com o intuito de aprofundar a narrativa, conteúdo temático lecionado em todos os 7.º anos, recebemos pela terceira vez na Biblioteca Escolar D. Carlos I, o escritor, contador de histórias e performer extraordinário Rodolfo Castro.
O modus operandi não diferiu muito daquele a que nos habituou. Apresentando-se como o pior contador de histórias do mundo, feito que tentou e não conseguiu, a formulação que se segue na cabeça de todos os presentes, no decorrer de uma sessão pautada pelo chicote das gargalhadas, é a de que foram enganados e este é provavelmente o melhor contador de histórias do mundo.
Este encontro apresentou contudo algumas novidades, com o escritor e contador de histórias a deixar retalhos íntimos da sua vida e da sua infância.
Começou por alertar para os perigos dos extremismos, e de como em todos os regimes autoritários, a primeira perseguição ser feita aos livros e à liberdade que eles nos concedem.
E foi graças a um livro que falava de uma revolução feita com cravos e de um país onde as pessoas podiam pensar e falar livremente, que acabou por vir contar histórias a Portugal e aqui permaneceu.
Com a sua expressividade ímpar aliada a um trabalho corporal e vocal burilados pelas muitas e muitas histórias que tem contado ao longo dos anos, Rodolfo Castro submergiu-nos numa espécie de realismo mágico com as cores e os cheiros da Argentina.
E no meio dos risos e das gargalhadas, e sem nos darmos conta disso, somos transportados para os bairros urbanos de Buenos Aires do final dos anos sessenta e para uma infância que caminhava sobre a pestilência da pobreza e as cicatrizes da ditadura militar. Um lugar onde as crianças jogavam à bola evitando os detritos dos cães e liam livros censurados às escondidas; um lugar onde os mortos se levantavam dos caixões para reivindicar o devido respeito e as crianças iam ao encontro de bruxas com sede de aventura.
E também sem darmos conta, já estamos a percorrer caminhos lamacentos e intermináveis que nos conduzem a uma aldeia no meio do nada, uma aldeia que poderia ter-se chamado Macondo mas dava as boas-vindas à Realidade; e logo depois encontramo-nos parados a olhar para a imensidão daquelas coisas negras que se mexem ao sabor dos muitos perigos que nela habitam e que são as florestas da América Latina.
Rodolfo Castro é a corporização da premissa, muitas vezes por si enunciada, que efetivamente "A leitura e a narração oral colocam enormes desafios para quem lê e quem conta, e estes desafios estimulam o desenvolvimento da imaginação, qualidade essencial para a dinâmica social, laboral e cultural de uma comunidade em crescimento.
Nas palavras do próprio Rodolfo Castro, "a leitura é um bem e um direito, e ouvir e contar contos faz parte essencial da cultura humana. A leitura dá-nos olhares e ferramentas para uma melhor interpretação da realidade e ajuda-nos a ser mais analíticos e mais críticos. A narração oral transforma o facto lido ou narrado num acontecimento significativo, lúdico e comunicativo de primeira ordem."
Com uma plateia ao rubro, Rodolfo Castro prometeu voltar para as comemorações da Semana da Leitura, mas desta vez para os alunos do Jardim de Infância e do 1.º Ciclo.
Vamos esperá-lo ansiosamente, com a certeza de que somos feitos de histórias e que Rodolfo Castro é a melhor pessoa para contá-las!
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