Decorreram nos dias 11 de outubro – 6.º D – ;12 de outubro – 6.º A –; e 14 de outubro – 6.º F –, as primeiras três sessões deste ano letivo dos CLE – Clubes de Leitura na Escola – nas turmas do 6.º ano.
A metodologia da exploração foi a do reconto por parte dos alunos com a ajuda de imagens sobre a história que iam sendo projetadas e depois um debate sobre quais as principais mensagem veiculadas.
A obra, para além da beleza da escrita, é um hino à humildade, à bondade, à honra, à lealdade, à nobreza de caráter, ao altruísmo, à amizade, à cumplicidade, à honestidade, à sensiblidade, ao sentido de responsabilidade, à tolerância, à aceitação da diferença.
Com a promoção de todos estes valores positivos e fundamentais para a formação de uma cidadania ativa e de uma sensibilidade empática, a par de uma belíssima história que ora nos deixa os olhos humedecidos ora nos faz encaracolar os cantos dos lábios, a escolha sobre a primeira obra a abordar nestes encontros não poderia ter sido outra.
A história começa com um bando de gaivotas do Farol da Areia Vermelha planando por correntes de ar cálido sobre a foz do rio Elba, no mar do Norte, antes de continuarem voo para Den Helder, onde se lhes juntaria um outro bando das ilhas Frísias.
No plano de voo estava previsto que seguiriam depois até ao estreito de Calais e ao Canal da Mancha, onde seriam recebidas pelos bandos da baía do Sena e de Saint-Malo, com os quais voariam juntas até chegarem aos céus de Biscaia.
Esta mancha de prata iria aumentar depois com a incorporação dos bandos de Belle-Île e de Oléron, dos cabos de Machicaco, do Ajo e de Peñas.
E seria precisamente o golfo de Biscaia o destino de todos estes bandos que se dirigiam à grande convenção das gaivotas do Mar Báltico, do Norte e do Atlântico.
Infelizmente uma destas gaivotas, Kengah, apanhada por uma maré negra, acaba por, moribunda, aterrar numa varanda com vista sobre o porto de Hamburgo onde vivia um gato grande preto e gordo, o Zorbas.
Antes de morrer Kengah põe um ovo e suplica a Zorbas que lhe faça três promessas: não comer o ovo, tomar conta da sua cria e, quando esta nascesse, ensiná-la a voar. Sem saber muito bem no que se estava a meter, Zorbas aceita.
Imbuído do sentido de dever e decidido a fazer cumprir a sua palavra honesta de gato do porto, Zorbas empenha-se na educação da gaivotinha, mas como a tarefa de educar se revela mais difícil do que o esperado, Zorbas conta com a ajuda dos seus fiéis amigos, Secretário e Colonello, para o ajudarem a levar a missão a bom porto. Aliás, uma promessa de honra contraída por um gato do porto obriga todos os gatos do porto.
Através das informações do livro do saber do Sabetudo e do voluntarismo dos restantes, os quatro gatos empreendem a missão de honrar a promessa de Zorbas ao participar na educação da gaivotinha a quem batizam de Ditosa. Bem-afortunada sob a proteção dos gatos do porto, Ditosa cresce a pensar e a agir como um gato.
No entanto é preciso honrar as promessas feitas e chega ao momento em que é preciso ensiná-la a voar. Com a ajuda de um poeta e abençoada pela chuva, Ditosa encontra finalmente o anseio de voar que prevalece sobre o medo e assim, cumpre o seu destino.
A história termina com o seu pai adotivo a contemplá-la uma última vez com os seus olhos amarelos, embaciados pela chuva ou pela dor, olhos amarelos de gato grande, preto e gordo, de gato bom, de gato nobre, de gato do porto!
Primeiramente importa salientar a dicotomia estabelecida por esta obra, a todos os títulos excecional, entre humanos, corrompidos pelos vícios, e os animais, regidos por fortes valores de honra e de dever e nobres sentimentos, valores esses que os primeiros abandonaram.
Curioso como o chimpanzé Matias é o único animal que não obedece aos rígidos códigos morais dos outros habitantes do porto. Talvez porque fisicamente é o que está mais próximo do homem, já se apresenta corrompido pela ganância e pela mentira.
Na verdade, e a obra ensina-nos isso. Há homens bons, como os ambientalistas nos seus barquitos de borracha tentando impedir a maldição dos mares. Infelizmente os homens sem consciência moral ou ambiental sobrepõem-se-lhes, envenenando o oceano com manchas viscosas de petróleo e os rios com pneus, toneladas de garrafas plásticas e barris de inseticidas.
O poeta é também dos poucos que escapa à dura crítica do narrador, que ao voar com palavras belas que alegram ou entristecem, produzindo sempre prazer e suscitando o desejo de continuar a ouvir, inspira confiança. E daí os animais o escolherem para ajudar a sua filha adotiva a cumprir o seu destino de gaivota.
Mais do que uma fábula, História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar, assume contornos de parábola onde, mediante o uso de situções e linguagem figuradas, se transmitem ensinamentos morais, e dando como exemplo a profunda dignidade dos animais que nos surgem imbuídos de maior humanidade do que os próprios humanos.
kengah morre ao tentar alcançar o campanário de São Miguel e Ditosa encontra a sua verdadeira natureza lançando-se do mesmo, funcionando assim a torre da igreja de hamburgo como símbolo simultâneo de morte e renascimento.
Esta obra, parafraseando Saramago, deveria ser de leitura obrigatória também para adultos, sobretudo porque nos relembra que "só voa quem se atreve a fazê-lo".
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