sexta-feira, 18 de março de 2016

ELOS DE LEITURA_ O AMOR NA LITERATURA

No âmbito da Semana da Leitura 2016 e a convite da Biblioteca Escolar D. Carlos I, o Professor Carlos Bettencourt abordou a temática em epígrafe com a presença da turma C do 9.º ano acompanhada pela Professora Isabel Delgado. 


O docente entrou na sala ao som da ária “Oh Mio Babino Caro” da ópera Gianni Schichi de Giacomo Puccini, explicando em seguida que esta ária é um pedido de uma jovem ao seu pai para que a deixe ir ver o seu amado, pelo qual está perdida de amor. Seguidamente, leu alguns excertos do livro bíblico “Cânticos de Salomão”, escrito entre 1009 e 992 AC, que é um verdadeiro hino ao amor, destacando-se entre outros os seguintes: “Beije-me ele com os beijos da sua boca; porque melhor é o teu amor do que o vinho.”, “Levanta-te, meu amor, formosa minha e vem.”
 Prosseguiu a sua apresentação, citando o poeta romano Horácio que viveu entre 65 a 8 AC: “Mas eu não te procuro para dilacerar-te como um tigre cruel ou um leão africano. (Ó Cloe) deixa afinal tua mãe: já estás no tempo de começar a amar.” (Carm. I, 23). E prosseguindo a sua viagem no tempo, o professor Carlos Bettencourt levou até à sua assistência ecos da Lírica Trovadoresca, do diálogo singelo entre as donzelas e a Natureza, sempre inquietas perguntando “novas do seu amigo, novas do seu amado”. Continuando a sua deambulação, detém-se brevemente em Dante Alighieri e na sua formosa Beatriz a quem dedicou tantos dos seus poemas: “Então a minha frágil alma sinto/ Tão doce, que o meu rosto empalidece,/ Pois Amor tem em mim tanto poder/ Que faz os meus suspiros me deixarem/ E saírem chamando/ A minha amada, para dar-me alento.”

E de Dante passa a Luís de Camões que de forma tão intensa e tão perfeita cantou o amor nos seus sonetos, destacando “Amor é um Fogo que Arde sem se Ver”, verdadeira síntese das contrariedades do amor e “Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente” no qual atribui a causa da sua perdição ao amor. 
Breve passagem ainda por Shakespeare e a sua tragédia Romeu e Julieta e pelos sonetos que idolatram a graça e a beleza femininas, emolduradas pelo amor. E a viagem prossegue, agora com uma paragem no século XVII e a leitura de alguns passos das cartas de Soror Mariana Alcoforado, uma freira portuguesa e uma das primeiras vozes no feminino a falar dos efeitos e contrariedades do amor, num desnudar completo e plangente da alma de uma mulher apaixonada: “Suporto contudo o meu mal sem me queixar, porque me vem de ti. É então isto que me dás em troca de tanto amor?” Já no século XIX, uma referência a Almeida Garrett e à sua famosa paixão por Rosa Mantufar, transcrita nas páginas do seu temporão Folhas Caídas: “Eu no teu seio divino/ Vim cumprir o meu destino…/ Vim, que em ti só sei viver,/ Só por ti posso morrer.”
            Chegados às primeiras décadas do século XX, eis-nos perante Florbela Espanca, outra das vozes femininas a cantar o desejo e a força do amor que parecia até então ser coisa só de homens: “E, olhos postos em ti, digo de rastros:/ Ah! Podem voar mundos, morrer astros,/ Que tu és como Deus: princípio e fim!...” e “E é como um cravo ao sol a minha boca…/ Quando os olhos se me cerram de desejo…/ E os meus braços se estendem para ti…”.
            E no meio de tantas palavras e explosão de sentimentos, eis que a viagem chega ao fim, com o breve poema “Quase Nada” de Eugénio de Andrade: “O amor/ é uma ave a tremer/ nas mãos de uma criança./ Serve-se de palavras/ por ignorar/ que as manhãs mais limpas/ não têm voz.”
            A Biblioteca Escolar D. Carlos I agradece ao ilustre Professor esta inebriante viagem pelos caminhos inesgotáveis do amor na literatura que constituiu um dos momentos altos da nossa festa da leitura.


           





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