No âmbito das comemorações do V centenário do nascimento de Camões, o Professor Carlos Bettencourt incarnou o príncipe dos poetas e declamou poesia nas turmas do 5.º ano.
Saio da casa de banho da Direção e começo a descer as escadas. Há olhares de espanto, sorrisos incrédulos e uma ou outra palavra de aprovação. Pelo caminho, a Sara Rocha vai tirando fotografias.
Tudo começou com uma frase, meio a brincar, meio a sério. Esboçavam-se as atividades para as comemorações na escola do V centenário do nascimento de Camões e eu disse à Helena Carapinha: “- Se quiseres, eu faço de Camões!”. Pouco depois, a nossa Diretora chamou-me e com aquele ar sonhador a que ninguém consegue dizer não, pediu-me para fazer mesmo de Camões e percorrer as salas das turmas do 5º ano, recitando alguns poemas do nosso insigne poeta.
Entramos na primeira sala de aula. A Sara faz uma pequena introdução. Os alunos observam-me com espanto, enquanto recito alguns dos poemas mais conhecidos de Camões. “Descalça vai para a fonte, Lianor pela verdura” é o primeiro e seguem-se outros, sempre com um breve comentário introdutório. Depois há espaço para perguntas e uma delas vai repetir-se nas outras turmas: “Camões, como é que conseguiste viver até agora?”. Repondo-lhes que as pessoas só morrem quando não existir mais ninguém que se lembre delas.
Passaram-se mais de trinta anos e ali está ela, a professora Isabel Almeida, de quem fui aluno em Literatura Portuguesa II, na Faculdade de Letras de Lisboa. Estamos mais velhos. Vêm-me à memória as aulas sobre Camões, tema que já na altura apresentava com mestria, apesar de estar ainda na verdura da juventude. Vamos para o pavilhão desportivo, ao encontro dos alunos do 9.º ano. Isabel vem falar sobre o episódio de “A Ilha dos Amores” ou “A Ilha Namorada”, como gosta de dizer, em “Os Lusíadas”. Tínhamos combinado que já que eu, “Camões”, estava ali, poderia ler as estrofes que ela indicasse. E fui lendo, no tom mais épico que consegui, sentindo-me elevado às alturas. Há momentos perfeitos.
E que mais hei-de dizer? Recordo o ar surpreso e assustado de uma aluna que veio abrir a porta da sala de aula e se deparou comigo, trajado de Camões. Ou a observação de uma menina do 1.º Ciclo: “És um Camões falso!”. Quando me parecia que não tinha corrido tão bem, recebia relatos encantadores das colegas que estavam com as turmas. Contavam que alguns alunos diziam ter acreditado piamente que eu era mesmo Camões e outros que afirmaram que nunca mais iam esquecer aquela aula de Português. Lembro-me também das palavras da nossa Diretora, na sessão solene, no dia 5 de junho, tratando-me como se eu fosse mesmo Camões.
Termino de tentar dizer o indizível expressando a felicidade de experienciar o quanto a nossa escola é capaz de se unir à volta de um objectivo comum e fazer a magia acontecer. Estamos todos de parabéns!
Sintra, 19 de junho de 2025
Professor Carlos Bettencourt
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